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Racionalidades Médicas

Antroposofia

A  Saúde Antroposófica consiste em um sistema terapêutico integrativo e complementar que amplia o paradigma da Biomedicina com os conhecimentos da Antroposofia. Ela é praticada atualmente em mais de 60 países tanto no âmbito de ambulatórios, consultórios e clínicas quanto em hospitais de pequeno, médio e grande porte. Está presente oficialmente no sistema de saúde de alguns países e é contemplada em cadeiras acadêmicas e em pesquisas de algumas universidades.

Ela foi desenvolvida na Europa, no início do século XX, a partir do trabalho conjunto de um grupo de médicos, liderados pela Dra. Ita Wegman e por Rudolf Steiner, filósofo contemporâneo, sistematizador da Antroposofia.

Uma de suas principais características é a abordagem centrada no paciente a partir de uma concepção de saúde que valoriza sua individualidade e considera que as dimensões emocional, mental e espiritual são tão relevantes quanto a dimensão corpórea nos processos de adoecimento. Ênfase especial é colocada na busca pelo envolvimento do paciente direta e ativamente em seu processo de prevenção, tratamento e recuperação do bem estar por meio de atividades de educação e auto-educação para o cuidado.

Todos os medicamentos antroposóficos são obtidos da natureza, a partir de substâncias minerais, vegetais ou animais. Não há medicamento antroposófico sintético. Tampouco se concebe um medicamento antroposófico obtido de uma planta geneticamente modificada, ou que em seu processo de cultivo foram usados agrotóxicos, fertilizantes químicos ou herbicidas sintéticos.

A razão é simples: os processos normais ou doentios que ocorrem no organismo humano encontram na natureza algum processo correlato ou oposto. De acordo com cada caso, a Medicina Antroposófica indicará um medicamento para estimular no ser humano uma reação que levará à cura ou alívio da enfermidade. O fundamental no medicamento antroposófico é que ele estimula as forças auto-curativas do organismo.

Um medicamento antroposófico pode agir, de acordo com sua composição, de três modos: (1) estimulando um processo contrário à doença – esta é a maneira alopática de ação, por exemplo, para uma inflamação pode-se usar uma planta que estimule no organismo suas atividades anti-inflamatórias; (2) agindo de modo igual à doença e provocando uma reação contrária maior do organismo no sentido da cura – este é um princípio homeopático de ação: aquilo que provoca também pode curar; (3) proporcionando um modelo orientador para o órgão ou sistema doente, levando à sua atividade sadia – este princípio é exclusivo dos medicamentos antroposóficos.

Muitos medicamentos antroposóficos são dinamizados, isto é, diluídos e agitados de modo rítmico várias vezes. Esse processo farmacêutico serve para despertar na substância seu potencial curativo, que estava como que adormecido. Mas também existem remédios feitos a partir de tinturas de plantas, extratos secos e chás, ou seja, medicamentos não dinamizados.

Há uma grande preocupação com a qualidade da substância que será usada para se fazer o medicamento antroposófico, pois se entende que a substância é a fase final de um processo. Então, o processo precisa ser tão valorizado quanto a substância em si. Alguns exemplos práticos: a calêndula é uma planta conhecida como cicatrizante e vitalizante desde a Idade Média. Além do cultivo orgânico (sem agrotóxicos ou fertilizantes químicos), para que as flores da calêndula sejam usadas em um medicamento ou cosmético antroposófico, elas são colhidas nas primeiras horas da manhã, quando na natureza as forças de vitalização são mais intensas. As tenras folhas da bétula, usadas como rejuvenescedoras desde o século I, são colhidas na Primavera, justamente a época em que a natureza se rejuvenesce.

Entre um mineral natural e um derivado de uma reação química sintética – ainda que ambos tenham a mesma composição – o mineral natural será o escolhido para compor um medicamento antroposófico justamente porque ele trará consigo todo o seu processo natural que culminou na substância.

Isso significa que existe um cuidado especial com tudo o que cerca o futuro medicamento, inclusive influências “de longe”. A prata, mineral de grande aplicação terapêutica na medicina antroposófica, é dinamizada de acordo com a fase da lua, pois existe uma clara influência deste astro com o metal – já demonstrada em diversos experimentos científicos.

As principais vias de administração dos medicamentos antroposóficos são a oral, a injetável subcutânea e a tópica (compressas externas de pomadas, cremes ou óleos) alguns destes exigem prescrição médica.

A abordagem terapêutica pode incluir também medidas não medicamentosas gerais ou específicas e indicação de tratamentos complementares pelas terapias antroposóficas, como terapias autobiográficas e massagens rítmicas.

Atuando de forma interdisciplinar com outras áreas da saúde e terapias ampliadas pela Antroposofia, a abordagem do paciente pode ser realizada em conjunto com outros profissionais de saúde.

Antroposofia na Saúde

Segundo a Antroposofia, cada elemento, substância e ser vivo sobre a face da Terra fazem parte de um conjunto harmônico que respira como um verdadeiro cosmo vivo. Esse cosmo possui um aspecto sensível, visível e mensurável com o qual nos relacionamos através de nossos sentidos e que compreendemos racionalmente através da nossa ciência acadêmica, mas também possui um conjunto de forças não visíveis, o seu aspecto imaterial ou supra-sensível. Para a Ciência Espiritual de Rudolf Steiner, esse campo supra-sensível é tão real e passível de ser estudado, quanto o mundo material. O ser humano ocupa uma posição muito peculiar dentro dessa cosmovisão. Ele é considerado uma imagem condensada desse mundo ao seu redor. Um microcosmo em permanente interação com o macrocosmo material e espiritual.

Os três princípios constituintes do homem ou trimembração

Quando contemplamos o corpo humano, podemos perceber três partes bem distintas: cabeça, tronco e membros. Por trás dessa aparente simplicidade esconde-se, no entanto, um dos grandes segredos da arte antroposófica de curar. Para um médico antroposófico, o ser humano é um organismo trimembrado. Aprofundando-se nessa direção, ao observarmos a cabeça, vemos que nela predominam os processos neurossensoriais. Se observarmos o cérebro, vemos uma estrutura de baixíssima vitalidade e alta especialização. Através da cabeça, a maioria dos estímulos sensoriais penetra no cérebro por meio dos pares cranianos. Uma outra característica da cabeça é que seus ossos têm formas planas e arredondadas e situam-se na periferia, de maneira a proteger o cérebro. No pólo oposto encontram-se o abdômen e os membros, com predomínio de intensa atividade metabólica, onde os processos de regeneração celular são muito ativos e há um “ir para o mundo” tanto através das mãos e dos pés, quanto através dos resíduos que eliminamos. Os ossos, nesse pólo, são longos e retilíneos e encontram-se protegidos por musculatura, dando-lhes sustentação. Entre essas duas regiões de características tão distintas, encontra-se o tórax, que, na Medicina Antroposófica, abriga o equilíbrio entre as polaridades descritas, sendo a sede do sistema rítmico, que promove a inter-relação saudável entre o pólo neurossensorial e o pólo metabólico. Aí encontram-se órgãos rítmicos: coração e pulmões, protegidos por um arcabouço, as costelas, que também se movimenta. E assim, resumidamente, temos um homem trimembrado em seus sistemas neurossensorial, rítmico e metabólico. Cada um deles permeia todo o organismo humano, mas concentram-se principalmente em uma região do corpo.

No caso do sistema neurossensorial, ele está mais concentrado na região da cabeça, mas sabemos que todo o corpo humano possui nervos.

O sistema rítmico concentra-se principalmente na região do coração e pulmões, isto é, no tórax, mas todo o corpo humano possui artérias que pulsam ritmicamente e a respiração também acontece em cada célula de nosso corpo.

O sistema metabólico concentra seus órgãos principalmente no abdome e o movimento ativo nos membros, mas cada parte do nosso corpo possui seu metabolismo e movimento próprios.

Na vida psíquica, essa trimembração pode ser identificada nas três atuações básicas: pensar, sentir e agir.

Os quatro elementos constituintes do ser humano ou Quadrimembração

“O homem é o que ele é através do corpo físico, do corpo etérico ou vital, do corpo astral (alma) e do Eu (espírito). Ele deve ser visto como homem sadio a partir desses membros; ele deve ser percebido, quando doente, no equilíbrio perturbado deles; para sua saúde devem ser encontrados medicamentos que restabeleçam o equilíbrio perturbado”.

Elementos fundamentais para uma ampliação da arte de curar
Rudolf Steiner e Ita Wegman

Uma das maneiras de apresentar o homem à luz da Antroposofia, é relacioná-lo com a natureza ao seu redor. Nessa abordagem, o homem é visto como um ser que compartilha semelhanças com os reinos mineral, vegetal e animal, mas que também se distingue deles pela presença da sua autoconsciência. Podemos dizer que o homem guarda em si todos esses reinos, sendo portador de quatro estruturas essenciais, de quatro elementos constituintes, também chamados de “corpos” no jargão médico-antroposófico.

Corpo físico: é a estrutura sólida, material, palpável e mensurável, sujeita às leis da física e da química. É o corpo que compartilhamos com os minerais. É uma estrutura totalmente inerte e morta quando não permeada pelo segundo elemento (corpo etérico).

Corpo Etérico ou Vital: são as forças responsáveis por todo o princípio da vida, seja nos vegetais, animais ou seres humanos. O corpo vital nos dá a possibilidade de desenvolvermos vida vegetativa: crescimento, regeneração e reprodução.

Corpo Astral (corpo anímico ou alma): são as forças da consciência, presentes nos reinos animal e humano, e que formam o fundamento para uma vida sensitiva. Tem um papel de “organizador” dos processos vitais e, de maneira didática, podemos dizer que ele manifesta-se como sistema nervoso e vida psíquica.

Organização do Eu (espírito): é o elemento característico do ser humano, que o distingue dos demais reinos e seres da natureza. É o responsável pela atuação saudável dos demais corpos e o aparecimento do andar ereto, da fala e do pensar. É a nossa individualidade, nossa entidade espiritual. Relaciona-se com os processos de calor no âmbito do organismo.

Uma analogia pode ser feita com os quatro elementos da medicina hipocrática e também da alquimia: terra (corpo físico), água (corpo etérico), ar (corpo astral) e fogo (Eu).

As etapas do desenvolvimento humano ou biografia humana

Uma das grandes contribuições da Antroposofia para a Medicina e a Psicologia é o aprofundamento do estudo das leis biográficas. Se observarmos o ser humano em seu processo de desenvolvimento, veremos que este se dá em ciclos de sete anos, marcados por acontecimentos significativos no campo biológico ou psicológico. Do nascimento aos sete anos de idade, vemos profundas transformações relacionadas com o crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor. O bebê transforma-se em uma criança com pensar lógico, com sentimentos, vontade própria e muita agilidade. A troca dos dentes e o início da alfabetização, em torno dos sete anos, marcam essa mudança de ciclo. Aos quatorze anos, a maioria dos jovens atingiu a puberdade, marcando um amadurecimento biológico, e aos 21 anos geralmente buscam a sua independência da família, já tendo alcançado a maioridade jurídica. E assim, a alma humana vai se transformando junto com o seu corpo físico-biológico, à medida que o Eu, a individualidade, vai se aprofundando em seu caminho pela Terra. De maneira mais resumida, vemos três grandes marcos biográficos: do nascimento aos 21 anos; dos 21 aos 42 anos; dos 42 aos 63 anos/final da vida. Cada um desses ciclos pode ser dividido em três setênios com características muito definidas. Mas, num olhar abrangente sobre o ciclo de vida humana, vemos um início de vida com muita vitalidade física e pouca consciência; depois um período com maior desenvolvimento emocional e o “apropriar-se do mundo”, seguido geralmente por uma fase de maturidade, sabedoria e desenvolvimento de consciência social, mas com baixa vitalidade. No fim da vida há um “desprender-se do mundo”. Segundo a Antroposofia, o Eu humano tem uma trajetória encarnatória, descendendo dos mundos espirituais de onde se origina, do nascimento à metade da vida (por volta dos 42 anos), quando esse processo chega ao fim. Logo após começa a sua trajetória de volta aos mundos espirituais, caracterizando uma trajetória excarnatória, um processo ascendente. Entre esses acontecimentos, o Eu humano desenvolve uma história individual, única: a sua biografia. Compreender o processo de saúde e de doença significa também compreender o momento biográfico, suas crises e seus frutos.

Referência Bibliográfica:
http://abmanacional.com.br
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